
Por Kamalakshi Rupini Devi Dasi
Seja como a base da família, a educadora dos filhos, a força e a conselheira do marido, pregadora do conhecimento espiritual, governante sábia ou parte essencial dos sacrifícios religiosos, a instrução védica é clara: as mulheres devem ser protegidas e tidas na mais alta estima por toda a sociedade.
Na Bhagava-gita, capítulo 10, verso 34, Krishna diz: “Entre as mulheres, sou a fama, a fortuna, a linguagem afável, a memória, a inteligência, a firmeza e a paciência.” Estas opulências são consideradas femininas e são personificadas nas esposas de Dharma. A deusa da fortuna, Lakshmi; a deusa da sabedoria, Sarasvati; a deusa que é a mãe dos Vedas, de onde vem todo o conhecimento, Gayatri – são todas mulheres divinas. Vemos também que os rios, considerados tão sagrados e auspiciosos para toda a humanidade, como Yamuna, Ganges, Sarasvati, entre tantos outros, são deidades femininas. Além disso, quando nos referimos às divindades, o nome feminino vem sempre primeiro e, portanto, dizemos: Radha-Krishna, Sita-Rama, Lakshmi-Narayana e assim por diante. Partindo dessas observações, podemos refletir sobre a importante posição da mulher dentro da cultura védica.
A mulher é a shakti, a potência, sem a qual nada pode ser realizado. Desse modo, a mulher exercia um papel primordial nos deveres religiosos, nos sacrifícios de fogo, que eram realizados em diversas ocasiões, como cerimônia de nascimento, escolha do nome do bebê, casamento, cerimônia fúnebre, entre outras. Sem a presença dela, todos esses ritos essenciais aos membros da civilização védica simplesmente não podiam ser realizados. O Rig Veda (1.79.872) diz: “A esposa deve realizar agni-hotra (yajna ou sacrifício), sandhya (puja) e todos os outros rituais religiosos diários. Se, por alguma razão, seu marido não está presente, a mulher sozinha tem total direito de realizar yajna.” Porém, sem a esposa, o marido não pode realizar yajna. Deste modo, quando um homem ficava viúvo, ele não podia mais realizar tais sacrifícios. Na história do Senhor Ramachandra, uma das formas de Krishna, é relatado que, certa vez, Ele foi realizar um agni-hotra, mas, como Sua esposa, Sita, não estava com Ele, Ele teve que usar uma deidade de Sita feita de ouro e colocá-la junto dEle na arena de sacrifício para que este pudesse ser feito.
As mulheres participavam de todos os tipos de atividades, de acordo com sua natureza, assim como os homens faziam. O Rig Veda (10.191.3) instrui: “A esposa e o marido, sendo metades iguais de uma mesma substância, são iguais em todos os aspectos; deste modo, ambos devem se juntar e tomar partes iguais em todo trabalho, tanto religioso quanto secular.” O Yajur Veda (20.9) diz: “Homens e mulheres têm direitos iguais de serem apontados como governantes”. Deste modo, a mulher tinha importante papel em todos os aspectos da vida social. Como esposa, ela deveria instruir e ajudar o marido de diversos modos. O Atharva Veda (7.46.3) diz à esposa: “Ensina teu marido a conquistar riquezas.” A mulher, sendo representante de Lakshmi na vida familiar, era também responsável por administrar todos os bens da família e manter as tradições.

Lakshmi, a deusa da fortuna.
Assim, a mulher era considerada a base do lar. Ela era chamada patni, aquela que lidera o marido pela vida; dharmapatni, aquela que guia o marido no dharma, e sahadharmacharini, aquela que segue com o marido no caminho
do dharma. Isso era possível graças à educação material e espiritual que a mulher recebia, conforme ordenado
no Atharva Veda, que diz que as meninas deveriam se tornar completamente eruditas antes de entrarem na vida
familiar. Do mesmo modo, o Rig Veda declara: “Um veda, dois vedas ou quatro vedas, junto
com ayurveda, dhanurveda, gandharva-veda etc., e junto com educação, kalpa, gramática, nirukti, astrologia,
métrica, ou seja, os seis vedangas, devem ser conhecidos pela mulher de mente pura, que é como uma água pura e
cristalina, e que dissemina esse conhecimento diversificado entre as pessoas.” Assim fica claro também o papel da
mulher como instrutora não apenas dos filhos e conselheira do marido, mas também como fonte disseminadora do
conhecimento para toda a sociedade. Algumas dessas mulheres optavam por se dedicarem integralmente ao estudo
espiritual, permanecendo solteiras, as quais eram chamadas de brahmavadinis), enquanto outras optavam por
serem educadas para uma vida de casada, o que incluía tanto o estudo espiritual quanto o estudo de deveres
específicos de sua casta, de sua natureza (como manejar arco e flecha, dirigir quadrigas, realizar sacrifícios de fogo
etc.), as quais eram chamadas de sadyovadhus.
É frequente as mulheres serem altamente louvadas pelas escrituras devido ao seu elevado caráter, inteligência e
boas qualidades. De fato, há algumas histórias que descrevem mesmo esposas que enganam a morte ou a subjugam
e, assim, salvam a vida de seus maridos. Sem falar nos acontecimentos desastrosos ocorridos devido a ofensas
cometidas contra mulheres, como a guerra de Kurukshetra, a famosa batalha na qual Krishna falou a Bhagavad-gita e
que foi deflagrada devido à ofensa dos Kauravas contra Draupadi, a esposa dos Pandavas, quando os primeiros
tentaram despi-la em frente a uma assembleia.
Por outro lado, dentre as qualidades consideradas femininas, também se destacam o coração macio, fé e inocência,
o que pode torná-las presas de pessoas com más intenções. E tanto por isso quanto por sua importância social e
espiritual, às vezes as escrituras falam da necessidade das mulheres serem protegidas, assim como devem ser
protegidos os brahmanas ou sacerdotes, as vacas, as crianças e os mais velhos. Os brahmanas são aqueles que fazem
parte da classe mais alta da sociedade e a quem todos prestam suas reverências, as crianças são o futuro da nação,
os mais velhos são o reservatório de conhecimento, e as vacas são os animais mais sagrados, sem os quais não há
sacrifícios religiosos, uma vez que a manteiga é um ingrediente essencial para isso. Quando se colocam esses
elementos da sociedade e as mulheres na lista dos que devem ser protegidos, isso de maneira alguma é um atestado
de incapacidade da mulher, mas, sim, uma prova de sua posição importante e elevada.
Por fim, tendo liberdade para trabalhar de acordo com sua natureza, para escolher seu companheiro, para escolher
se quer casar ou permanecer solteira, se quer se dedicar à vida espiritual exclusivamente ou se dedicar ao cuidado
da família, a máxima védica “que todos sejam felizes” aplica-se também, obviamente, à mulher. De qualquer modo,
ela deve ser extremamente respeitada, seja como a base da família, a educadora dos filhos, a força e a conselheira
do marido ou como aquela que é capaz de disseminar o conhecimento espiritual, que é uma governante sábia, ou
que é parte essencial para a realização dos sacrifícios religiosos e, portanto, de todos os ritos pelos quais os seres
humanos deveriam passar. Seja em qual posição for, o Manu-smriti (3.56-57), o livro das leis deixadas por Manu, o
pai da humanidade, adverte: “Onde as mulheres são honradas, lá os deuses estão satisfeitos, mas onde as mulheres
não são honradas, nenhum rito sagrado dá frutos. Onde as mulheres da família vivem tristes, a família logo perece
completamente, mas a família onde elas são felizes, sempre prospera”.
……….
Radharani, destarte, é expansão de Krishna: Krishna é o energético, e Radharani é a energia. Assim como não é
possível separar a energia do energético; onde quer que Krishna esteja presente, está presente Radha, e onde quer
que Radha esteja presente, está presente Krishna. O fogo e o calor você não pode separar: em todo lugar onde há
fogo, há calor, e onde quer que haja calor, há fogo. Igualmente inseparáveis são Radha e Krishna, mas Ele está
desfrutando.
Svarupa Damodara Gosvami descreveu esta intrincada filosofia de Radha e Krishna em um excelente verso, o qual
diz:
radha krishna-pranaya-vikritir hladini shaktir asmad
ekatmanav api bhuvi pura deha-bhedam gatau tau
chaitanyakhyam prakatam adhuna tad-dvayam chaikyam aptam
radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krishna-svarupam
(Chaitanya-charitamrita, Adi 1.5)
Radha e Krishna é o Supremo único, mas, a fim de desfrutar, Eles Se dividiram em dois, e, no Senhor Chaitanya,
juntaram-Se novamente os dois em um. Esse “um” indica Krishna no êxtase de Radha. Algumas vezes, Krishna fica no
êxtase de Radha, e, outras vezes, Radha fica no êxtase de Krishna, o que continua. O ponto, no entanto, é que
“Radha e Krishna” significa o único, o Supremo.
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O Advento de Srimati Radharani

Sua Divina Graça A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Em palestra realizada em Montreal, 30 de agosto de 1968, o acharya-fundador da ISKCON fala sobre a grandiosidade
da filosofia de Radha-Krishna.
Hoje é Radhashtami, o aniversário de Srimati Radharani. Radharani é a potência de prazer de Krishna, o qual, por Sua
vez, é o Brahman Supremo, como encontramos no Bhagavad-gita (10.12):
param brahma param dhama
pavitram paramam bhavan
purusham shashvatam divyam
adi-devam ajam vibhum
“Sois a Suprema Personalidade de Deus, a morada derradeira, o mais puro, a Verdade Absoluta [param brahma].
Sois eterno, transcendental, a pessoa original, o não nascido, o maior”.
Krishna é o Brahman Supremo e, quando o mesmo quer desfrutar, Ele não Se vale da matéria para isso. A postura de
desfrute está presente no Brahman Supremo, ou param brahma. Do contrário, não poderíamos ter esse espírito de
desfrute. Porque somos partes integrantes do Brahman Supremo, temos essa postura de desfrute, mas, em nós, é
materialmente contaminada. É fato, no entanto, que, porque Krishna desfruta, a postura de buscar desfrute também
existe em nós, mas não sabemos como desfrutar. Estamos tentando desfrutar na matéria, a qual é, por natureza,
embotada. Brahma-sukhanubhutya (Srimad-Bhagavatam 10.12.11): as pessoas estão tentando sentir o que é
o brahma-sukha, o prazer de brahmanubhava, o que não é prazer material. Muitíssimos yogisabandonaram sua vida
familiar e seu reino e adotaram a meditação para alcançar o prazer do Brahman. Na verdade, a meta é o prazer do
Brahman. Muitíssimos brahmacharis e sannyasis estão tentando obter o prazer do Brahman e, a fim de obter
semelhante sorte de prazer, estão negligenciando e rejeitando todo prazer material. Vocês acham que o prazer do
Brahman é um prazer ordinário como este prazer material se, a fim de obterem uma porção do prazer do Brahman,
grandes personalidades rejeitam todo este prazer material?
Não falemos de nós, porquanto somos homens comuns. Na história, temos grandes exemplos, como aquele de
Bharata Maharaja, devido a cujo nome este planeta se chama Bharatavarsha. Bharata Maharaja foi o imperador do
mundo inteiro e, como imperador, tinha sua bela esposa e seus jovens filhos. Com a idade de vinte e quatro anos, no
entanto, quando apenas um rapaz, ele abandonou tudo. Talvez alguém diga que esta é uma história muito antiga, é
claro, mas vocês conhecem o Senhor Buddha, o qual também era príncipe. Buddha não era um homem comum, mas
sim príncipe, kshatriya, e ele estava sempre desfrutando com belas mulheres, pois o costumeiro prazer palaciano
nos países orientais era que, no palácio, havia muitas belas moças, e elas estavam sempre dançando e dando prazer
aos reis e aos príncipes. Assim, o Senhor Buddha também estava envolto por tal prazer, mas ele abandonou tudo e
começou a meditar.
Há muitas centenas de casos na história da Índia de personalidades que, para auferirem o prazer do Brahman,
abandonaram tudo. Esse é o caminho. Tapasya significa voluntariamente aceitar algo rigoroso para lograr o prazer
supremo. Então, entendamos: se, para saborear um pouco do prazer do Brahman, todos os prazeres materialistas
estão sendo abandonados, é possível acharmos que o Brahman Supremo, o Senhor Krishna, desfrutará deste prazer
material? Isso é razoável? Krishna está desfrutando, lakshmi-sahasra-shata-sambhrama-sevyamanam (Brahmasamhita 5.29): “Centenas e milhares de deusas da fortuna estão ocupadas a Seu serviço”. É possível pensarmos que
essas lakshmis, deusas da fortuna, são mulheres materiais? Como Krishna pode obter prazer nas mulheres
materiais? Pensar isso é engano. Ananda-chinmaya-rasa-pratibhavitabhis tabhir ya eva nija-rupataya kalabhih:
Na Brahma-samhita (5.32), vocês encontrarão que Ele expande Sua ananda-chinmaya-rasa, “a nuança da
transcendental potência de prazer”, e as gopis, entre as quais Radharani é a principal, são expansões de Sua potência
de prazer.
Radharani é o centro, de modo que não devemos pensar que Ela é uma mulher comum, assim como temos a nossa
esposa ou irmã ou mãe. Não. Radharani é a potência de prazer, e o Seu nascimento não foi a partir do ventre de
algum ser humano, senão que Ela foi encontrada por Seu pai no campo. Enquanto o pai arava o solo, ele viu que
uma criancinha estava ali. Ele não tinha filhos, então ele pegou a criança e a apresentou à rainha, sua esposa:
“Temos aqui uma excelente criança”. “Como obtiveste tal criança?”. “No campo”. Apenas vejam. O janma, ou
nascimento, de Radharani é assim, o qual se deu hoje.
O nome Radha às vezes não é encontrado no Srimad-Bhagavatam, em virtude do que os membros da classe ateísta
protestam com perguntas como esta: “De onde surge este nome Radharani?”. O ponto, contudo, é que eles não
sabem como vê-lo. No Srimad-Bhagavatam (10.30.28), encontramos anayaradhitah. Não obstante a existência de
muitas gopis, existe a menção de que, por essa gopiem particular, Ele é servido mais prazerosamente, ou, em outras
palavras, Krishna aceita o serviço dessa gopi com mais prazer. A palavra aradhyate significa “adoração”. Desta
palavra aradhyate, vem Radha. O nome de Radha, contudo, está presente em outros Puranas. Assim, esta é a
origem.
Radha e Krishna. Krishna é o desfrutador, e Ele quer desfrutar. Então, uma vez que Ele é o Brahman Supremo, Ele
não pode desfrutar de algo externo, dado Seu atributo de atmarama, “autossatisfeito”. Ele, portanto, desfruta em Si
mesmo. Radharani, por conseguinte, é a expansão de Sua potência de prazer, daí se afirmar que Krishna não tem
que buscar por coisas externas para o Seu prazer, sendo Ele pleno em Si mesmo. Radharani, destarte, é expansão de
Krishna: Krishna é o energético, e Radharani é a energia. Assim como não é possível separar a energia do energético;
onde quer que Krishna esteja presente, está presente Radha, e onde quer que Radha esteja presente, está presente
Krishna. O fogo e o calor você não pode separar: em todo lugar onde há fogo, há calor, e onde quer que haja calor,
há fogo. Igualmente inseparáveis são Radha e Krishna, mas Ele está desfrutando.
Svarupa Damodara Gosvami descreveu esta intrincada filosofia de Radha e Krishna em um excelente verso, o qual
diz:
radha krishna-pranaya-vikritir hladini shaktir asmad
ekatmanav api bhuvi pura deha-bhedam gatau tau
chaitanyakhyam prakatam adhuna tad-dvayam chaikyam aptam
radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krishna-svarupam
(Chaitanya-charitamrita, Adi 1.5)
Radha e Krishna é o Supremo único, mas, a fim de desfrutar, Eles Se dividiram em dois, e, no Senhor Chaitanya,
juntaram-Se novamente os dois em um. Esse “um” indica Krishna no êxtase de Radha. Algumas vezes, Krishna fica no
êxtase de Radha, e, outras vezes, Radha fica no êxtase de Krishna, o que continua. O ponto, no entanto, é que
“Radha e Krishna” significa o único, o Supremo.
A filosofia de Radha-Krishna é uma filosofia muito grandiosa, a qual deve ser entendida no estágio liberado, e não no
estágio condicionado. Quando adoramos Radha-Krishna em nosso estágio condicionado; adoramos, na verdade,
Lakshmi-Narayana. Raga-marga e viddhi-marga: a adoração a Radha-Krishna está na plataforma de amor puro, ragamarga, ao passo que a adoração a Lakshmi-Narayana está na plataforma dos princípios reguladores, viddhi-marga.
Enquanto não desenvolvermos o nosso amor puro, teremos que adorar com base nos princípios reguladores: o
indivíduo tem que se tornar brahmachari, tem que se tornar sannyasi, tem que fazer a adoração de determinada
maneira, tem que levantar de manhã, tem que oferecer artigos – muitíssimas regras e regulações. Existem pelo
menos sessenta e quatro regras e regulações, as quais introduziremos gradualmente, à medida que vocês se
desenvolvam.
Assim, em viddhi-marga, quando não temos amor por Deus, ou Krishna, temos que seguir a prática dos princípios
reguladores, até que o tenhamos automaticamente. Quando vocês praticam tocar o tambor mridanga, por exemplo,
não fica harmonioso no começo, mas, quando bem versados na prática, o som será produzido muito bem.
Analogamente, quando estamos ocupados pelos princípios reguladores na adoração a Radha-Krishna, isso se
chama viddhi-marga, ao passo que, quando você está realmente na plataforma amorosa, isso se chama raga-marga.
Então, se alguém quer aprender raga-marga imediatamente, sem viddhi-marga, isso é tolice, haja vista que ninguém
pode passar no mestrado sem passar pelos princípios reguladores do ensino fundamental, médio e superior. Diante
disso, eu não me ocupo em discussões de Radha e Krishna muito facilmente. Em vez de o fazermos, prossigamos
com o princípio regulador no momento presente. Gradualmente, à medida que vocês se tornarem purificados, à
medida que vocês se situarem na plataforma transcendental, vocês entenderão o que é Radha-Krishna, mas não
tentem compreender Radha-Krishna muito rapidamente, porquanto é um tema muito amplo. Se quisermos
compreender Radha-Krishna muito rapidamente, haverá muitíssimos prakrita-sahajiyas.
Na Índia, há prakrita-sahajiyas, os quais tornaram a dança de Radha-Krishna, por exemplo, um brinquedo. Nas
pinturas de Radha-Krishna deles, Krishna está beijando Radha e Radha O está beijando. Tudo isso é disparate, pois a
filosofia de Radha-Krishna tem que ser compreendida pela pessoa liberada, não pela alma condicionada. Devemos
aguardar, portanto, pelo afortunado momento em que estaremos liberados, então compreenderemos radhakrishna-pranaya-vikritir. Tentem compreender que Krishna e Radha não estão no âmbito material. A análise de Jiva
Gosvami, em resumo, é que Krishna é o Brahman Supremo, e o Brahman Supremo não pode aceitar algo material,
logo Radha não está no âmbito material.
Existe uma excelente canção, de autoria de Rupa Gosvami.
radhe jaya jaya madhava-dayite
gokula-taruni-mandala-mahite
damodara-rati-vardhana-veshe
hari-nishkuta-vrinda-vipineshe
vrishabhanudadhi-nava-shashi-lekhe
lalita-sakhi guna-ramita-vishakhe
karunam kuru mayi karuna-bharite
sanaka-sanatana-varnita-charite
(Radhika-stava)
Esta canção foi cantada por Rupa Gosvami, aquele a de fato ter compreendido Radha e Krishna. Então, ele diz radhe
jaya jaya, “todas as glórias a Radharani”; madhava-dayite, “a qual é muito querida a Krishna”. Todos estão tentando
amar Krishna, mas Krishna está tentando amar Radharani, de modo que podemos tentar compreender quão
grandiosa Ela é. Todas as entidades vivas, no universo inteiro, estão tentando amar Krishna – krishna-prema. O
Senhor Chaitanya disse que prema-pumartho mahan, isto é, “a meta mais elevada é amar Krishna”. E Rupa Gosvami
descreveu: “Estás distribuindo krishna-prema, ó Chaitanya”. Assim, embora krishna-prema seja algo valiosíssimo,
Krishna está buscando por Radharani. Apenas vejam o quanto Radharani é grandiosa! Apenas tentemos entender a
grandeza de Radharani! Ela é grandessíssima, em razão do que temos que oferecer os nossos respeitos: radhe jaya
jaya madhava-dayite.
Como Ela é? Gokula-taruni-mandala-mahite. Taruni significa “mocinhas”. Vocês podem ver nas pinturas que elas,
as gopis, são todas mocinhas. De todas as mocinhas, entretanto, Radharani é a mais bela. Ela é encantadora às
mocinhas também, pois Ela é belíssima. Damodara-rati-vardhana-veshe: Ela sempre Se veste tão bem que
Damodara, Krishna, atrai-Se pela beleza dEla. Hari-nishkuta-vrinda-vipineshe: Ela é o único objeto amável de Krishna,
e Ela é a rainha de Vrindavana. Caso vocês forem a Vrindavana, vocês verão que todos estão adorando
Radharani. Rani significa “rainha”. Todos lá estão sempre falando: “Jaya Radhe!”. Todos os devotos em Vrindavana
são adoradores de Radharani. Vrishabhanudadhi-nava-shashi-lekhe: Ela apareceu como a filha do rei
Vrishabhanu. Lalita-sakhi guna-ramita-vishakhe: Suas companheiras são Lalita-sakhi e Vishakha-sakhi. Então, em
nome dos devotos puros de Krishna, Rupa Gosvami está orando, karunam kuru mayi karuna-bharite. “Ó minha
adorável Radharani, sois plena de misericórdia, em virtude do que estou implorando por Vossa misericórdia. Visto
que sois deveras misericordiosa, muito facilmente concedeis Vossa misericórdia. Não deixarei, portanto, de implorar
por Vossa misericórdia”. Neste ponto, alguém talvez dissesse: “Rupa Gosvami, és tão grandioso, és um estudioso
erudito, uma personalidade tão santa, e está implorando pela misericórdia de uma mocinha comum? Como é isso?”.
Portanto, Rupa Gosvami diz, sanaka-sanatana-varnita-charite: “Não se trata de uma moça comum. Apenas grandes
personalidades santas, como Sanaka-Sanatana, podem descrever tal moça, logo Ela não é uma moça qualquer”.
Assim, a lição é que não devemos tratar Radharani como uma garota comum, ou Krishna como um homem comum.
Eles são a Suprema Verdade Absoluta. Na Verdade Absoluta, todavia, existe a potência de prazer, a qual é exibida
nas relações de Radha e Krishna, e todas as gopis são expansões de Radha.
Srimati Radharani: Gênero, Divindade e Amor na Forma da Deusa Dourada