Por Ramaputra das
Segundo os Vedas a palavra PRAMĀṆA significa “prova” ou “aquilo que pode ser comprovado”. APRAMĀṆA é o falso conhecimento decorrente de uma falsa experiência. A palavra PRAMEYA é o objeto do conhecimento o conhecível.
PRAMATTA significa que uma pessoa na busca de PRAMĀṆA pode ser confundida e enlouquecer. PRAMATTA significa loucura. No Śrimad-Bhāgavatam 5.5.4 diz: nūnaṁ pramattaḥ kurute vikarma… “Quando uma pessoa busca conhecimento considerando apenas a gratificação dos sentidos como objetivo da vida, ela certamente fica louca com uma vida materialista e se envolve em todos os tipos de atividades errantes. Ele não sabe que, devido a seus erros passados já recebeu um corpo que, embora temporário, é a causa de problemas ou de sua própria miséria. Na verdade, a entidade viva não deveria ter assumido um corpo material, mas ela recebe o corpo material para a gratificação dos sentidos”.
Este texto nos alerta dizendo que não é adequado a um homem inteligente com conhecimento envolver-se novamente nas atividades de gratificação dos sentidos, pelas quais ele perpetuamente obtém corpos materiais um após o outro.Devemos aperfeiçoar nossas vidas com bons amigos ou boa associação para obter conhecimento verdadeiro.
Como já falamos no artigo anterior, nos Vedas existem 10 tipos de evidências para se obter conhecimento dentre as quais há três principais conhecidas tecnicamente como: pratyakṣa, anumāṇa e śabda.
a) Pratyakṣa: Significa percepção “visual”, ou percepção direta que não é recomendada como processo eficiente porque nossos sentidos são imperfeitos. Vemos a Lua e o Sol diariamente, e nos parece semelhante a um pequeno disco, mas, na verdade, ele é maior, bem maior, que muitos planetas. Que valor tem essa visão? É óbvio que a experiência direta não é perfeita. Portanto, temos que aprender lendo livros ouvindo aulas de astronomia. Então, poderemos compreender melhor o Sol, a Lua e tantas outras coisas.
b) Anumāṇa: Significa “seguir (anu) a mente (mana)”, inferência ou estudo da lógica. Inferência segundo o dicionário é o esforço ou operação intelectual por meio da qual se afirma ou busca a verdade. No estudo da lógica existe a analogia ou a proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras. Anumāṇa são as hipóteses ou especulações muitas vezes se referindo aos nossos ancestrais, antecessores e antepassados.
Em Anumāṇa ou conhecimento indutivo é hipotético: “Talvez seja assim, talvez seja assado”. É um conhecimento aparente ou travestido como científico quando na verdade é apenas uma sugestão, e, por isso, não é perfeito.
A especulação nunca ajudará alguém a entender a Verdade Absoluta. Por isso, na Bhagavad-Gītā 10.11 Kṛṣṇa diz: teṣām evānukampārtham / aham ajñāna-jaṁ tamaḥ /nāśayāmy ātma- bhāva-stho /jñāna-dīpena bhāsvatā – “Para eles apenas, por uma questão de misericórdia, Eu dissipo com a lamparina brilhante do conhecimento a escuridão nascida da ignorância, pois habito no âmago da alma”.
O Senhor diz a Arjuna que basicamente não há possibilidade de compreender a Verdade Suprema — a Verdade Absoluta — por meio da simples especulação, pois a Verdade Suprema é tão grande que não é possível compreendê-lO ou alcançá-lO com simples esforços mentais ou Anumāṇa.
c) Śabda: “som”, ou śruti. É o “Conhecimento védico que é ouvido diretamente.” Dedução, o processo descendente. O conhecimento védico chama-se śabda-pramāṇa. Outro nome é śruti. Śruti significa que esse conhecimento deve ser recebido através da recepção auditiva. Os Vedas ensinam que, para compreender o conhecimento transcendental, temos que ouvir a autoridade.
O conhecimento transcendental é o conhecimento que está além deste universo. Dentro deste universo, está o conhecimento material, e além deste universo situa-se o conhecimento transcendental. Se nem ao menos podemos ir ao fim do universo, como podemos ir ao mundo espiritual?
Assim, podemos perguntar se é possível adquirir conhecimento completo?
Na Bhagava-Gītā 2.25 está dito: “Afirma-se que a alma é imanifesta, inconcebível e imutável.”… A dimensão da alma é tão pequena para nosso cálculo material que ela não pode ser vista nem mesmo pelo mais poderoso microscópio; portanto, ela é invisível. Quanto à existência da alma, ninguém pode provar sua existência experimentalmente, além da prova do śruti, ou a sabedoria védica. Temos de aceitar esta verdade, porque não há outra fonte que nos leve a entender a existência da alma. Não podemos colocar a alma ou a consciência em um tubo de ensaio para experiência.
A metodologia ou instrumentos da ciência servem para pesquisar elementos inferiores a nós. E só por vaidade quando não conseguimos pesquisar e compreender algo superior como a consciência, a alma ou Deus concluímos que não existe.
Há muitas coisas que temos de aceitar baseados unicamente na autoridade superior. Em outras palavras, a alma é inconcebível para o conhecimento experimental humano. A alma é consciência e consciente — esta afirmação é dos Vedas, e temos que aceitar isto. Na Bhagavad-Gītā 4.34 Kṛṣṇa diz: “Aprende isso mediante submissão, indagação minuciosa e serviço. Os conhecedores ensinarão conhecimento a ti, pois viram a Verdade.”
O caminho da realização espiritual é difícil e por isso Krishna aconselha que nos aproximemos de um mestre espiritual genuíno. Assim como numa universidade os estudantes que querem se graduar precisam de um orientador, na busca de compreensão espiritual, indagações e submissão constituem a combinação apropriada para aproximação do mestre. O método descendente onde recebemos conhecimento do mestre por meio da sucessão discipular é recomendado por Kṛṣṇa porque contém todas as vantagens do método ascendente, tais como lógica, percepção direta e razão. Por isso, Kṛṣṇa diz na Bhagavad-Gītā 9.2.: “Soberana ciência, soberano mistério, este é o purificador último. Assimilado pela percepção direta, é virtuoso, muito alegre de praticar e imperecível”.
Aproximar-se diretamente de um mestre autentico é o processo epistemológico śabda pramāṇa ou evidência por meio do som vindo de uma autoridade.
Muito obrigado, Hare Krishna! Oṁ Tat Sat!